domingo, 25 de fevereiro de 2007

Enigmático: nos escombros de uma dança do ventre inadvertida encontrei um homem.
Estranho: toda eu a andar sob a escuta do seu andar.
Parei.
Pensei.
Por momentos não acreditei; entrei.
Sem bater.
Sem chamar.
Apenas entrei.
Quis escrever sobre a coragem, a de me deixar levar por um relento selvagem.
Não podia - a saliva que largava ia deixando um denso rasto de heresias.
Menti às reacções corporais; caminhei a ser forte; tacteei a própria liberdade.
E então cresci; e então quis desafiar a condição humana.
Sem raiva, rancor ou percepção funesta atirei o homem ao penhasco.
Quis testar o limite.
Ouvi ao longe o grito sublime e altivo da cotovia que anuncia o infinitivo do sofrimento. Tudo me pareceu matemática: as minhas acções falavam-me de frieza, cálculo, descrédito - sorrisos desmedidos de dor.
Ergue-se a luz; chamam-lhe vida.
O homem cresceu; o homem procurou; o homem encontrou. E conseguiu olhar-me nos olhos: expandir para dentro de mim as palavras que agora digiro: «Não tenhas medo!»
Entrei sem bater, sem chamar… o engano é puro quando as vontades se cruzam. Não fui eu que entrei nele: ele é que entrou cá dentro.

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