Ontem pensei em perder-te. Perder-te. Perder-te sem te encontrar. E sofri. E sofri, amor, por não saber de ti. Ontem pensei: e se te perdesse? Pensei.
Senti o frio. Morri um pouco a pensar. Morri por dentro, onde te guardo: no batimento, um caixão. Senti-te ir; longe. Pensei-me. Senti-me. E nos ecos ficou um abrigo: folhas dispersas – a gangrena dos silêncios.
Ontem perdi a pensar-te. Pensei-te com amargura. Arrepio. Disse-te infinitamente às nuvens que te levaram. E sofri. Sim, sofri, amor, por não querer saber de ti. Perdi: e se te encontrasse? Perdi.
Chegou-me o calor; capturou os dedos que quis engolir. Segurei num seio, depois noutro e disse-te: Estás aqui. Insistes na escuridão e eu digo-te Estás aqui. Insistes, amor, por não saberes de ti.
Estou no muro, sentada para te cheirar, à espera do que me vai devolver a aptidão. Pulso intermitente. Pulso no deguste do aroma. Porque ontem, amor, pensei em perder-te e perdi-me sem te encontrar. Estou no muro: é fácil sê-lo;construir o peito de quem não vive. A loucura de te ter, a paixão de te dizer: estou aqui; a verdade em assumir, o trejeito de sentir: nos meus seios; estás aqui.
Se fosses, amor, ontem não te pensava como te lembrei - o ruído sublevaria o abrigo. Estou aqui; estás - nos mesmos lençóis, embrulhados em conchas; os dois na areia que dança no limbo da alucinação. E se te perdesses de mim?
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1 comentário:
Bom trabalho! Há fôlego para algo mais extenso, ou ficas-te pelos instantes?
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