terça-feira, 15 de abril de 2008

Olhar-me. Ver-me sem pestanejar. Gosto? Do que vejo no branco. O resto é acessório; é empecilho; é imagem.
Olhar. E descobrir o porquê. E saber que a casa me espera. Gosto? Do que abraço à frente. O resto é ilusório; é frivolidades; é imagem.
Ver. E sentir no seio um aperto. E querer que me abraces na viagem em que nos vamos perder. Gosto? Dos sorrisos de boca cerrada. O resto é o sufoco que me retira o ar; é impossibilidade de vida; é imagem.
Estar cansada é pouco.
Olhar-te. Ver que algo está errado. Saber que negas alguma coisa ou alguém. Gosto? Gosto-te. O resto é paisagem; é cor; é retrato.
Ver-te. E deixar-te só na distância. E afugentar os meus medos com a tua solidão. Gosto? Gosto-te. O resto é passeio; é voz; é retrato.
Estar cansada é pouco.
Abocanhar. Querer o mundo num só trago. Fechar os olhos e viver do sumo interior. Pernoitar nos riscos que largas ao toque das cordas. E saber que amo a complementaridade das palavras que não dizemos, das vozes que calámos por ser tão doce a entrega pelo respirar.
Olhar-me. E ver-me como metade de um rosto que é teu. Ver-me. E arrancar do peito o coração que palpita para te dizer: é teu; leva-o. E depois poder descansar, por fim, até que a luz se apague e os monstros me construam o leito onde repousarei ao abrigo do teu corpo quente.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ler o que aqui se despenha toca tudo o que é simples.
Aqui sente-se a busca do sossego que respira sob a ameaça dos muros que se erguem.
A casa é tecida e move-se suspensa.
O som que escuta é assim ilustrado.
Sentido: como cada palavra que rola abraçada às lágrimas pela face erguida.

http://br.youtube.com/watch?v=UM7EPnhHtu0&feature=related

Anónimo disse...

"Querer o mundo num só trago. Fechar os olhos e viver do sumo interior."
"Alguém pare este comboio!"
;)
bj

Anónimo disse...

muito interessante