domingo, 25 de fevereiro de 2007

O frio já se começa a sentir e ela lá está: jogada a um recanto recôndito de rajadas repentinas de raiva.
A roupa de si rasgada peca pelo suplício de memórias ultrapassadas na certeza dos dias.
Não há ninguém mais triste; não há nada mais sóbrio. Tudo é tortura, tudo emana incertezas, dúvidas e preocupações já esquecidas de tanto usadas.
Na cabeça a música não pára: uma mistura de Rage Against the Machine e Red Hot, com a eloquência, flacidez e o nervoso miudinho de todos os cigarros fumados pela Anita Lane. São insistentes essas notas que lhe facultam mais um tremor de terra.
Ali está…
A um canto.
Desprendida de vontade, solta numa única lágrima permanente e deslizante.
As palavras vão-se soltando contra toda a densidade populacional das areias que povoam as quatro paredes que a sustentam.
Sem querer toca numa face desse aglomerado.
Tudo se encolhe e regressa à origem; tudo parece oceano de forças na morgue de mais um movimento.
Desperta.
Não sorri.
Retoca.
Cria-se.
Inventa dores de partos idílicos.
Morre.
E desperta.
E sempre sem sorrir.
Tri-toca.
Procria-se.
Idealiza partidas de gemidos ocultos.
Sobrevive.

E no fim de mais uma descoberta de si para si: pensa nesse mundo onde vive sem cores: sonha com o dia dos pastéis. Os de Belém, os de Nata, os de Fios de Ovos, os de Mel.
E sorri. E brinca também. Sem criar. Sem sequer se mexer. O doce da alma jaz na sepultura de cada suave despertar.

Sem comentários: