Porque quando o silêncio invade a multidão, também as vozes se calam e espalmam.
Num coro, flúi a voz sorrateira; letras para espaços em branco; luzes num palco vazio.
A solidão disfarça o gume em vestes de negro. Cambaleiam as ondas. Morrem os olhares. Fixam-se as ausências. Tudo num silêncio. O que arrebata com uma pontada só.
Na mesa jaz um corpo: morto. Arremessado na via estreita.
Há tráfego de sangue. Há. E as bocas que se não abrem. E os pés que flutuam na neve. E o músculo contraído. Porque quando o silêncio invade a multidão, só os muros se erguem complacentes.
Ouve-se o suspiro ainda do pedaço de carne sobre a mesa. No centro um candelabro: aceso: sempre reluzente. Sobre o corpo iluminado de perfil: desdobra-se o brilho na retina fixa, a face ainda rosada, as veias a implorarem pelo último suspiro de vida. Mas as narinas já não abrem o vácuo da ostentação.
Ali ao lado, na dicotomia da mesa de madeira a sombra move-se em socalcos, apunhalando as gentes. Fulgura uma outra morte em trocas de horários difusos. Sobe a poeira – rasteira – sob o tronco que desgraça. Corpo. Morto. Na mesa. E já nem a cadeira sustenta o peso de tão leve verdade. É o silêncio a morrer-me por dentro. É o silêncio a trincar o portento. É o silêncio. É o silêncio.
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