Os monstros que guardo debaixo do peito caminham pela estrada das veias em fogo. Regam-me a saudade; refrescam a lembrança.
Os monstros que trago no fundo de um seio moram no eco de um gemido que solto. Pululam no segredo; rasgam a membrana.
J tinha uma saia. Uma saia bonita e tão solta. J brincava. J era filha e no ventre também mãe. Por vezes via monstros: criaturas verdes que se escondiam nas pernas, bem debaixo das saias. J. Uma deusa do mundo antigo deslocada no templo da aflição.
Sento-me. Coço a orelha.
Penteio o cabelo.
Estou em frente ao espelho. Olho-me. Procuro sinais. Olho-me e já não me penteio; vejo apenas. Na imagem morre a serenidade. Mas eu olho: por dentro. Vejo um; vejo outro – volto ao espelho. Detenho-me. Assim: a conseguir ver a deusa no canto. Olho para dentro e já não sinto J no canto. São os monstros a consumirem. Degolam tudo o que sou. Querem chegar a J que está no reflexo da minha imagem no espelho; lá ao fundo.
Penteio-me.
Atiro com a escova ao chão. Entrelaço os dedos na raiz: mutilarão os monstros uma saia tão bonita, tão solta?
Foge J, foge.
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