Embriaguez que te leva que te lava que te trava e te balança. Não vês nada que não te oculte o sentido. Dizes: as madrugadas são suspiros. E o álcool cai para o lado inverso. Estás sentado no chão que te acolhe. Não há barulho e só a respiração procura o fio condutor de energia. Salivas. Babas os cantos da imaginação na proliferação de um sonho inacabado. As paredes projectam sombras; o chão move-se em ondulações: desequilíbrio da memória. «Sou o que vês. Sou o que não alcanças. Sou o cenário surrealista que subtrai a soma das partes», pensas.
A cama está ali ao lado, no leito onde já fizemos amor tantas vezes sem alcançar o orgasmo intelectual que procura o afago. Continuas deitado, mas desta vez no encontro das sombras que te perseguem incessantemente. Mais um gole na alucinação que promete. Vai voltar. Um ritmo de delírio, um sossego na voz. Dizes: a varanda está ali a escassos metros do chão. Arrastas o corpo: intervalo de cuspe para o rapto da alma. Arrastas o corpo. Esfregas o peito na tentativa de sarar a dor. Arrastas. Sussurras por ajuda. As pernas já não são. As mãos: elo de força para a vontade que expele. Dizes: ajuda-me. O chão já não te embala e as sombras penam fugindo pelas frinchas da cama onde os nossos fluidos trocaram as virtudes do esquecimento. A varanda já tão perto; o chão debaixo do teu corpo, mas não na junção do ser.
Dizes: ajuda-me. Mas eu não quero. Vou permanecer deitada na cama do nosso amor e ver-te sair da minha vida em direcção à morte. Morre. Vai. Na embriaguez que te leva que te lava que te trava e te balança.
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