quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O medo arregaçou-me. Quis que perseguisse uma onda de suspiros que fumam.
Disse-me: vem conquistar o meu antro de fertilidade. E eu fui. Não fecundei. Fui.
Riu-se de mim; o medo. Riu tanto. E eu fiquei. Fiquei assim: fiquei cega com ânsia de te sorrir. Dobrei a esquina e fiz-me sal: sal que me molha e rega e foge para o interior.
Pausa.
O medo apoderou-se. Quis que cantasse o teu som – aquele que sabemos de cor.
Disse-me: é hora. É hora de te dar o que sou na melodia seguinte, nos braços ferrados, cerrados de amor. E bebeu de mim. Jurou cumplicidade. Jurou tanto.
Fiquei grande com tremuras de pequenina. Soltei o peito e brotou de ti, que estás longe, um refugo de tempestades invisíveis que espancam e ferem o nosso espaço tão curto.
É mais disto do teu tempo que perco na essência das coisas sem sentido e sem paz e sem segundos reais.
O medo. Sempre o medo a quebrar as barreiras da existência.
Sem tempo. O tempo de pintar a gosto um passeio encadeado nos movimentos ondulantes dos nossos corpos – segredos – que escolhemos não pensar.
A galope.
O medo olhou-me. Olhei o medo. E assim ficámos nas eternidades cavalgantes.

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