segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

O tempo corre na pista que não sabe. Sôfrego: procura: meta que não encontra; não ama.
Eu: estafeta que espera. Nos cabelos abraço o vento – calco as pedras que me lavam do sangue; conto histórias na vaga de um gesto. Em pé, inerte: espero: sorrio: choro: espero.
O tempo corre e nunca canta pela vida. Transpirado, corre. Escorre-lhe pelas feições a água do mundo a que chamam chuva. E vai e salta barreiras; e rodopia para sacudir as manias; e plana e arranca o sonho à razão. Corre a parar nos afectos quando me proponho saltar: corre, nunca morre, corre, vive, corre, oferece sentidos.
Sou suplício nas notas, veias em esgar, emaranhado de complementos – que espera.
Espero na raiz que me detém e me lava os pés na poeira. Tronco de virtudes, espero.
Quando virá o momento? Em que a espera será plenitude; plenitude de esperas nos abraços de canções?
O tempo corre e não espera porque nunca lhe pedi perdão, porque me foge ao desgosto de não ter compleição.
O tempo corre e se calhar espera: só eu sou quem fujo; por quem ousei a negação.
O silêncio – sempre a solidão.
Espero, mas já não oiço a corrida. Que é feito do tempo, onde está a vida?
A meta ali – a um passo da chegada:
- Tempo não vás. Não queiras ser primeiro. Passar por mim, desgastada.
Tempo que me olhas sem pestanejar; tempo que me fitas; tempo que me queres. Sou eu – eu sei – o destino que persegues. Por isso ganho raízes quando a mudança gera amor.
Tempo fica sôfrego – tempo corre e não encontres solução. Tempo – és meu: não te quero na junção. Serei meta e tu artista: artista das pistas de gelo: gelo que me arde no âmago.
Estou aqui – longe – e tu que corres – e tu que quase me quiseste deter.
Só por te amar, de te viver.

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