segunda-feira, 5 de março de 2007

Vivia naquela casinha.
- Sábia!, dizem eles.
E nunca imaginaram sequer que a verdade fosse outra.
Vivia naquela casinha. Na casinha que era de água. Na casinha que calcetava com o suor dos dias. A menina cantava para não perder o rasto. A menina não era menina; era chuva que trazia saudade.
As mãos iam deslizando pelo vento. Procurava, ela. Ela procurava encontrar.
Estava escuro nesse ar que soprava enquanto a vida calcorreava emoções.
- Sábia!, dizem eles sem sequer conhecerem o abrigo.
Passeava muitas vezes com os pés descalços na areia. Andava até que se lhe desfalecesse a vontade de ser. Sempre muda; sempre sem som porque o grito era constante e só o silêncio seria barulho.
Nunca se viu o olhar. Nem um sorriso ou uma alegria. Sempre a sombra da menina. A água em flocos de tecido cor-de-rosa – cai.
No sol, um conforto que é o que traz a distância.
Trabalhava muito, a menina. A menina trazia no ventre o afago das verdades. E recusava uma explicação para si: que não sorria e só cantava.
- Sempre sábia!, eles a falarem.
Mais uma noite de passeio pela nudez da lua. Lá vai ela – a menina – descalça e sem frio. No ser ainda a vontade; ainda. Até que a voz se cale e o barulho a mate; e o barulho da solidão a leve.
Caiem agora flocos, mas não os do teu sumo de rosas: caiem os flocos de neve que viram no céu o horizonte e embalaram no núcleo a menina.
Ainda passeia descalça e não desfalece na vontade: é a casa que se fecha e o mundo que habita e o grito que a encerra e o contacto que a levita. Caiu na areia onde tanto passeou: desfez-se em granito.
Dizem eles que ainda lá mora, na casinha que suporta as vidas.

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