sábado, 14 de abril de 2007

Medo. Beijo morno.
Estão quietos – eles ali – num sono submerso. Estão quietos: em pé. E passeiam as palavras que circundam. O sol cumprimenta na passagem. Estão quietos da pobreza que usam. São as feições a suga-los; só.
Estendem-se. Deitam-se no vento que os leva. Acreditas?
Estão parados: quietos no desassossego: enjaulados. Hirtos, deitados – estão parados. A chuva quer levá-los. Não cedem; firmam-se um no outro pelo olhar. Da retina, nela, desenham-se raios vermelhos – força disfarçada. “A chuva é forte, amor.” Colam o ventre um no outro. Do umbigo cresce o cordão – quilómetros a percorrer vida. “A chuva, amor; a chuva”. O olhar, profundo, o olhar.
Sossego - boca num ferro dobrado. Estão, ali; lá longe porque me vou embora.
Entro no voo picado e ofereço-os. “Alguém os quer?” Imagem suave, beijo morno, no alcance? Música. “Tenho-os comigo. Alguém?” No jeito, a desconfiança.
O medo não é real – é ar que arrebata e cai por terra; esconde-se até habitar outro corpo. Ter medo é pedir desculpa na última noite e sair: mão no ombro: lágrima no bolso. É isso o medo; tudo. Ninguém morre senão na lucidez. “Estão aqui. Tenho-os comigo.” A casa acolhe-os – doces. “A chuva, amor; a chuva”. E saio.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tremendo