segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Andar adormecida e querer que o mundo esteja calado e que as pétalas amarguem na boca num andar que se mostra pesado. Os ritmos pausados, as falanges sem voz: falam os elos, falam os outros; marcam o peso das bobines que rodam. E o andar que não se cansa e a vontade que se reclama singela: falam as mãos: fala a loucura: marca a abrangência da consciência que cala. Solução? Olhar na direcção oposta; sempre na direcção contrária.
Dizes-me: anda ver o que escrevi.

Digo-te: não quero, estou cansada. E a verdade é que até queria, mas sou engrenagem que não sente. Então, então digo-te que não para que o caminho se conserve sábio.
Insistes.
Eu adormecida e a querer que o mundo esteja calado: Já te disse.
Arrastas-me para as letras: que são tuas. O que escreves é bonito, digo.

São palavras, colhes com orgulho na postura.
Eu sei; são apenas palavras, reitero. São as palavras que não sinto, como teclas que falam baixinho ao som da invasão alheia.
Sou máquina, pessoa adormecida que quer que o mundo se cale e que as horas batam certo, a tarefa com a acção, e o trabalho seja a marcha e a o dever a função. Não aceitas. Não acreditas na transformação dos velhos: finges a cilada. A resiliência dos surdos mata-me. Queres que olhe para essas palavras e eu viro a cara na direcção oposta.

Não me diz nada, insisto.
E tu não queres saber; queres que eu olhe. Eu olho e não vejo: de que adianta, pergunto.
Não te posso deixar assim: sem expressão no olhar, fria, sem vida.
Eu sou máquina, respondo. Não podes querer dar vida às máquinas porque no processo elas não sabem que têm que inspirar e expirar. E depois, pergunto. E depois? Que faço sem ti para respirar? Tu que me queres dar vida? Prefiro ser máquina; quero ser máquina.
Tu olhas-me e ficas inerte. Queres ter a resposta.
Não queres ver as palavras?

E eu digo que não. Digo que não sem chorar, sem sequer sentir a dor que agora te cresce no olhar. Olhas para o chão que calco; vês sempre as marcas que deixo no peso que me carrega pela matéria que sou.
Peço-te: não caminhes no trilho de um sabor que não é o teu.
Dizes-me: Como posso eu amar uma máquina?
Respondo-te: Como posso eu parar apenas para conhecer o amor?
O silêncio.
E depois a junção.
Sussurro: Ouve, ouve os tambores a chamarem-nos novamente. Ouve.

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