quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Os sonetos entraram no crepúsculo. Disseram que rompiam o manto para poderem enroscar-se nos acentos. Graves, agudos e sem linhas, avançam para o sinal dos medos. Eu vi. Vi que o escuro brilhava na neve e que o bocejo se mascarava na terra.

Ao redor, pedaços de figuras desconexas desejam embriagar o solfejo. Vão e voltam à procura da espinal-medula. A fragilidade impele a brusca delicadeza do refinamento, comentam eles.

Eis a entrada; a porta aberta que não vacila; a seriedade que se esvai no fumo. Os sonetos abanam, irrompem dos gracejos que oiço sem pedir perdão. Um deles decide pôr um pé: ouve-se o desafino. Uma nota num saco perdido. Os outros emitem-lhe um eco. Não querem que se sinta só. Encorajam: vai, vai. E ele olha para trás e aponta, trémulo: é o sinal dos medos. Os sonetos reúnem-se, conferenciam em murmúrio. Escuto, fecho os olhos para perceber a sonoridade em código. De um lado o desafino ao sabor do atrevimento; do outro a constelação de burburinhos. O conjunto? Como se de um piano fardado se tratasse, marchando sob o talento. Subitamente um dó. Um dó de quem não chora. Um dó sem piedade. Treme a terra: abalo boreal. O corajoso soneto já não está à porta do medo. Foi sugado, absorvido. Lá dentro nada é. Nem o vazio se permite falar.

O ar empalideceu. As figuras cegaram o orgasmo. O caminho enrugou-se e selou as fronteiras. Os sonetos pintaram o rosto e quiseram que a tela se despenhasse quando do suspiro renascessem as valquírias. Virgens poderosas do morteiro incandescente.

Estou sentada. Debruçada sobre os meus próprios pés, qual pedinte que requer cuidado aproximado. Estou desarmada. Abraçada naquela ânsia intermitente, qual poeira submissa num caixão sem pregos. Inspirar: expirar. E assim espero; e assim espero.

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