terça-feira, 25 de março de 2008

À Inês.

Passeia por ti livremente,
a formiga que faz rir
o teu corpo inocente.
Passeia por ti,
pelos ombros desenha carreiros,
nas picadas cultiva cheiros.
Passeia por ti livremente,
a formiga do outro lado da rua,
a rua que é parte do braço,
a rua que termina na dobra do inchaço:
Hematoma? Quisto sebáceo?
Como seguir?
De que forma poderei ir?
E agora a formiguita,
que pesada e triste está,
traz sobre si o peso
da passagem que não há.
Não desiste de pensar,
corre à volta,
procura achar,
mas a pobre pequenita
já está quase a soluçar.
Do outro lado da artéria,
está a velha que produz:
olá amiga, mas que tens,
carregas o diabo na cruz?
A pobrezita lá explica
tamanha preocupação
e na velha espevita
de imediato, resolução:
De que adianta chorar
prostrada perante a questão?
Se a montanha é problema
remove-a e ergue-a do chão.
A formiga já não chora
rebola a rir com a canção
e no encalço da lenga-lenga
diz que é mera provocação.
Mas a velha não desiste
e lança nova acusação:
Trabalhadora como te sei
não reconheço a negação
levanta o queixo e pensa já
na tua própria contribuição.
E assim a formiguita, formiguinha
deixou a pena para a galinha:
pôs as mãos para afastar
aquele monte do lugar.
Feliz, sem mais demora
continuou, qual corpo fora
confiante pela madrugada
a formiguinha chegou ao leito
para repousar descansada.
Ouve o repto que te lanço
enquanto no teu corpo me deito:
Tu, que és casa que o mundo habita
sente o que a vida te reservou
se queres o céu acredita
se queres chorar é pelo voo.

3 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

um grande beijinho às minhas duas pequenas mais grandes e gigantes do meu coracao! eh eh...

(da mana ou da tia, também ela Inês) :)

Clara disse...

Muito bonito D.!
É bom ler-te.
Beijo