domingo, 16 de março de 2008

Olho-te. Olho-te e penso nessa forma tão sublime que é amar-te por inteiro.

Gostava de ser realmente bonita, sabes? Como tu, num misto de contemplação e desejo. Como se só isso nos pudesse ancorar juntos para sempre. Penso em nós e em como tudo é tão frágil. Uma simples movimentação astral pode-te levar de mim. A ti, que te amo simples e com toda a intensidade. Então repito muitas vezes a pergunta: Como? Como é que poderia ser bonita?

Sabes como costumamos sentir o mundo? Era assim que eu gostava de ser bonita. E depois? Depois sairia iluminada por essas ruas fora com o brilho do esplendor, a perfeição de um rosto, o corpo que caminha singelo. E depois? Depois deixaria de pensar na fragilidade que assombra o nosso amor. Porque estarias a ver por fora tudo aquilo que cultivo cá dentro. Gostava que visses tudo isso em mim. E que só isso fosse a lâmina que te acutila qualquer passo atrás.

Nas conversas que temos, olhas-me muitas vezes de forma especial: páras só para me ver, só para me amar. Sei que fazemos amor apenas com o toque dos teus olhos sobre os meus. Mas depois há o rasgo; há o rasgo do que penso sobre o que sou; há o rasgo que me faz ver por fora. Mas depois lembro-me de mim ao espelho e escondo-me; fujo; refugio-me cá dentro. Penso que só o brilho poderá transformar a cruel aparência. Banho-me de silêncios e viagens para cultivar, polir, amar tudo o que não sou por fora. Pergunto-te: Como é que se faz isso de fora para fora? Dizes que não dá, que só o que vem de dentro ilumina o que está ao alcance da vista. Pergunto-te: será real? Amas-me mesmo? E tu voltas a ver-me e dizes que nunca o deixaste de fazer. E eu volto a usufruir dessa plenitude que é ter-te a meu lado na intensidade do que és. Dizes que sou linda. Selas as minhas dúvidas com um beijo. Digo-te que sim. Abraço-te e digo-te que sim.

3 comentários:

Anónimo disse...

a geografia emocional do que é belo: nem fora, nem dentro: espalhada sob as dúvidas; selada pelos mais simples dos gestos: estão lá os três movimentos primordiais da arca dos segredos: alquimia que está ao alcance da mais elementar recolha. está por aqui tudo! muito bom. belíssimo. muito; muito bom.

Anónimo disse...

A luz nunca desaparece simplesmente quando uma vela é soprada.
Por momentos fica o cheiro dessa luz que existiu, que nos desorienta a direcção, e nos corroi pela ausência da sua candura, mas lentamente incentiva a memória, nos apura maravilhosamente os sentidos e assim se vê o caminho. Nada se perde... tudo se transforma.
Parabéns por saberes escrever aquilo que sentes. É sempre muito bom ler-te!

Anónimo disse...

;) quero o livro e já!!

Luis